Curitiba

Os limites da ciência e da fé no espetáculo “Cura”

Deborah Colker ampliou o significado de cura, em dois dias de apresentação no Teatro Guaíra

 Os limites da ciência e da fé no espetáculo “Cura”

Foto: Julia Pozzetti

Como agir diante de algo que parece insolucionável? É a partir dessa indagação que Deborah Colker inicia sua busca artística, culminando no espetáculo de dança Cura, com apresentações no 30º Festival de Curitiba, nos dias 30 e 31 de março.

A doença grave e permanente de um sobrinho de Deborah motivou a renomada coreógrafa, que destrincha as grandes inquietudes humanas e propõe um novo olhar sobre as buscas, podendo ser por aquilo que nos faz continuar e pela fé em suas várias formas. 

Suas crenças se cruzam com o caminho da ciência. Embora no contexto da pandemia, tudo ganhe outro verniz, o espetáculo não tem relação com a Covid-19 e os questionamentos sobre a Medicina.

Dançarinos se movem em um telão inclinado, que serve de projetor e também de palco. A primeira palavra que surge na tela, é para os leigos, um mistério: CRISPR. Mas é uma expressão que representa esperança para pessoas em busca de tratamento para doenças aparentemente incuráveis. 

Duas cientistas, Emmanuelle Charpentier e Jennifer Doudna, descobriram que a região do genoma bacteriano denominada CRISPR atua na identificação do DNA de corpos invasores e em eventuais modificação. Isso possibilita o tratamento de uma série de doenças, principalmente câncer. Ao trazer a descoberta premiada com um Nobel, a artista colocou fé e ciência numa mesma dança, em que uma move a outra. 

Mas a conceituação de cura para Deborah Colker é muito mais ampla e atravessa fronteiras. A coreógrafa foi buscar em diversas culturas seu significado. “Me identifiquei com esses saberes e quis costurar a força e a potência de cada um deles: dos índios, dos africanos, dos budistas, dos cristãos, dos ateus”, afirma. Deborah complementa que seu desejo foi de “costurar” os diversos saberes encontrados em sua busca, que foi de Salvador a Moçambique. A coreógrafa também compreende que é um direito universal pedir pela cura e ajudar o outro. 

O projetor traz textos bíblicos, inovações científicas e paradigmas filosóficos. Em frente às telas, o elenco mistura dança contemporânea, balé e danças de matriz africana, fazendo a intermediação entre o novo e o antigo. África e Europa se interligam em mensagens e ritos ancestrais, refazendo os caminhos do sincretismo religioso, com dimensões potencializadas pela globalização. Leonard Cohen, Carlinhos Brown, Maracatu e rezas fazem a liga sonora entre as várias culturas.

Segundo a coreógrafa, as apresentações no 30° Festival de Curitiba também são importantes para a construção pessoal, já que a companhia está 28 anos no mercado e cresceu junto ao festival.

A busca começou em 2018 com o escritor e rabino Nilton Bonder. Depois empreendeu viagens pelo mundo. Aprendeu danças de matriz africana e foi estudar rituais indígenas. Foi num desses aprendizados que Deborah Colker escutou a história de Obaluaê, orixá responsável pela doença e pela cura. A história de Obaluaê é poderosa em significados: rejeitado por sua mãe de sangue, o orixá foi acolhido por Iemanjá, que viu beleza em suas feridas. O acolhimento por sua comunidade também faz parte de sua cura. 

Deborah Colker brinda a todos com simbolismos ancestrais e inusitados: a palha que cobre as chagas de Obaluaê e o esparadrapo que cobre as feridas são objetos centrais na coreografia. Dançarinos saem e entram pela cortina de palha de Obaluaê que caem do teto. São guerreiros ancestrais, que fazem movimentos fortes e largos, utilizando máscaras que encarnam figuras míticas. O pano é representado de diferentes formas pelos bailarinos. Em sua acepção mais simples, o pano cobre as chagas e, num jogo de palavras em cena, a fibra se relaciona com a natureza e a cura.

O espetáculo de Deborah Colker é uma grande pesquisa multicultural sobre a fé, o amor e a ciência no processo de superação humana. Tantos símbolos fizeram da montagem um estudo robusto sobre o que nos move enquanto cultura e o que, por fim, cicatriza nossas feridas.

A reportagem faz parte do projeto especial para o site bandnewsfm feita em parceria com estudantes do curso de Jornalismo da Universidade Positivo. O texto é de Julia Pozzetti .

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