“Mentira.br: Um estudo de caso” é um ato político
A peça marcou a primeira apresentação da companhia fora de São Paulo
O Grupo de Teatro Muvuca apresentou pela primeira vez a peça “Mentira.br: um estudo de caso” em Curitiba, no domingo (31). Com direção de Giovanna Zottis, o espetáculo estreou em 2022, na formatura de artes cênicas da Universidade de Campinas (Unicamp). A obra abriu as portas da 2ª Mostra Fexo, do Fringe.
Em um cenário composto por seis cadeiras, cinco atores e um cronômetro, os artistas levantaram questionamentos sobre a verdade, a mentira, a moral e a política. Com discursos impactantes e um ambiente um tanto quanto caótico, a apresentação foi dividida em três atos. Cada um deles retrata algumas lorotas, desde as pequenas inverdades do dia a dia até as fake news que prejudicam o cenário político.
O cronômetro fazia a contagem regressiva de uma hora, e durante esse tempo o público pôde rir, se emocionar e presenciar discursos importantes sobre a história do Brasil. Em toda a performance, os artistas se questionavam os motivos para enganar, como a mentira pode ser um recurso de autoproteção e também uma estratégia política.
Ao abordar como as fake news são criadas, os atores trouxeram exemplos didáticos e de forma bastante caricata, arrancando diversas risadas do público. “Ao cair em uma fake news, não se desespere!”, dispara um dos personagens.
Quando o cronômetro estava quase encerrando a contagem, a plateia é transportados para 7 de maio de 2008, quando Dilma Roussef respondeu provocações do senador José Agripino Maia, dizendo: “qualquer pessoa que ousar dizer a verdade para interrogadores compromete a vida dos seus iguais, entrega pessoas para serem mortas. Eu me orgulho muito de ter mentido, senador, porque mentir na tortura não é fácil. Diante da tortura, quem tem coragem e dignidade fala mentira”. Com o rosto molhado pelas lágrimas, a atriz interpretou a fala no palco.
Faltavam cerca de três minutos para encerrar a contagem, quando as luzes diminuem e ecoa a voz de Dilma, em uma entrevista de 2017: “Eu não choro porque a minha vida, a maior parte dela, eu não podia chorar né… não é necessário chorar para sofrer”. As luzes se apagam e o público aplaude de pé.
Reportagem: Maria Antônia Santos, estudante da Universidade Positivo(UP)