Covid-19: Paraná completa um ano de epidemia com recorde de internações, filas para UTIs e frustração com vacinas
Os primeiros casos confirmados de coronavírus no Paraná completam um ano hoje. Na terceira onda, o Estado repete um ciclo de erros e vive o pior momento da pandemia. O Paraná já acumula 740.955 casos confirmados e 13.053 mortes. Nunca houve tantos pacientes internados simultaneamente. Somados casos suspeitos e confirmados, 4.871 pessoas ocupam vagas em hospitais. Considerando a fila, que já passa de mil pessoas, 6 mil pacientes depende de leitos hospitalares para sobreviver. No dia 6 de abril, Curitiba confirmava a primeira morte causada pela covid-19.
O caso foi anunciado pela secretária municipal da Saúde, Márcia Huçulak.
Naquela época, a preocupação com a duração das medidas de restrição já existia. A infectologista Marion Burger, do Centro de Epidemiologia de Curitiba, já alertava sobre a necessidade de encontrar medidas eficazes e que estivessem dentro da realidade da população:
No início do segundo semestre do ano passado, a Secretaria Estadual da Saúde confirmava que as medidas de restrição não vinham surtindo o efeito esperado na sociedade. A falta de adesão ao isolamento já era apontada, naquela época, como um fator preocupante.
Em julho, o secretário estadual da Saúde, Beto Preto, lamentava os baixos índices, que são quase idênticos aos registrados atualmente:
Se hoje o colapso da rede hospitalar é uma realidade, sendo o indicador mais forte a fila de espera com mais de mil pacientes no Paraná, a preocupação não é recente. Em agosto de 2020, o prefeito de Curitiba, Rafael Greca, negava a falta de capacidade para atender pacientes na capital.
De lá para cá, a oferta de leitos exclusivos para a covid-19 flutuou, para mais ou para menos, conforme as curvas epidemiológicas se desenhavam:
No segundo semestre do ano passado, o mundo voltava as atenções para as vacinas, apontadas como a única forma eficaz de dar fim à pior crise sanitária do século. O Paraná despontava como pioneiro na busca para a solução e, em setembro, chegou a anunciar um acordo com a Rússia para testar, fabricar e distribuir vacinas para o Brasil e para a América Latina. O acordo seria conduzido pelo Instituto de Tecnologia do Paraná.
O diretor-presidente do Tecpar, Jorge Callado, anunciou a novidade com cautela e empolgação:
Os testes nunca foram realizados. Se a vacina russa hoje é uma realidade, o acordo paranaense fracassou. O Estado sequer aparece entre os principais parceiros da Rússia no Brasil, perdendo espaço para outros estados, como a Bahia, e até para laboratórios farmacêuticos privados. E se por um momento existiu a esperança de que o Paraná pudesse ser o celeiro das vacinas no Brasil, a empolgação tornou-se frustração.
Em janeiro, diante da inércia do Ministério da Saúde em viabilizar imunizantes, o governador Ratinho Junior manteve o alinhamento firme ao governo federal:
Até hoje, o Paraná recebeu apenas 1 milhão de doses de vacinas, suficientes para vacinar meio milhão de cidadãos. A previsão de vacinar quatro milhões de paranaenses até o final de abril, o que garantiria a saúde e segurança dos principais grupos prioritários, agora depende exclusivamente da capacidade do governo federal.
Sem vacinação em massa no horizonte, entre bandeiras amarelas e laranjas, o Paraná se prepara para o pior momento da pandemia. As médias móveis atuais de casos confirmados e mortes são as piores em 12 meses. O pico da terceira onda é esperado entre o final de março e o início de abril.
Reportagem: Angelo Sfair