Uma mesa, três cadeiras e uma coxia à mostra. Assim, com os nervos do teatro expostos, é composto o cenário de Ana Lívia. A tragicomédia conta com texto do curitibano Caetano Galindo, direção de Daniela Thomas, além de Bete Coelho e Georgette Fadel como estrelas do espetáculo. A estreia da Cia.BR116 – Teatrofilme aconteceu na última terça-feira (26), no Teatro da Reitoria.

Intensa, mas engraçada, a junção de todos os nomes de talento que compõem a obra criam a dúvida sobre nossa sanidade mental. A cada ato, uma nova interpretação surge à tona, abrindo margem para diversas versões de uma só história. O enredo conta a história de duas atrizes em crise, com suas vidas entrelaçadas. O tempo, a memória, a vida, a morte e a comunicação interpessoal são temas abordados durante todas as passagens e poemas recitados em busca do fim de uma conversa que não querem encarar de frente.

Poética, reflexiva e até dolorosa, a peça revela o talento das atrizes, que nos fazem vibrar com suas expressões faciais explícitas e reações exageradas. A percepção do público foi muito diferente da esperada por Galindo: “durante a apresentação vocês até riram! Eu escrevi uma cena específica imaginando a maior melancolia, e vocês riram! Esse é o poder de Bete Coelho e Georgette Fadel”.

A obra, inspirada em Finnegans Wake, do romancista irlandês James Joyce, se encaixa na categoria conhecida como metateatro, em que o enredo da montagem trata justamente sobre teatro — como uma peça dentro da peça. Outro aspecto muito elogiado em “Ana Lívia” desde a sua estreia, em 2023, é a utilização de elementos originais das artes cênicas. Luzes quentes e elementos “crus”, para usar como a criatividade mandar, transformam toda a energia do ambiente em que a história se passa.

Ao fim da apresentação, o público ainda pode experienciar a veia pulsante do Festival de Curitiba: o Interlocuções. Bete Coelho conversou com a plateia, com um olhar crítico e até esclarecedor sobre a montagem. O momento também teve a participação de Galindo e artistas que estão em outros espetáculos no Festival, além dos estudantes de teatro, que marcam presença em peso durante as duas semanas intensas de apresentações.

Informações: Ana Bavutti, da Universidade Positivo