Jornal divulga troca de mensagens que revelaria interferência de ex-juiz da Lava Jato, Sérgio Moro, nas apurações da operação

 Jornal divulga troca de mensagens que revelaria interferência de ex-juiz da Lava Jato, Sérgio Moro, nas apurações da operação

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Nos diálogos divulgados pelo jornal The Intercept, o então juiz da Lava Jato, Sérgio Moro teria orientado o coordenador da força-tarefa Lava Jato, Deltan Dallagnol em como dar sequência em investigações da Lava Jato, criticado e sugerido recursos do Ministério Público.

Os diálogos divulgados datam de 2015 a 2017. Segundo o jornal, o conteúdo totaliza mais de 1700 páginas. Um dos trechos citados pela reportagem aponta para uma conversa que teria acontecido quatro dias antes da primeira denúncia contra o ex-presidente Lula, no episódio que ficou marcado pela utilização de um power point que colocava Lula como o líder do esquema criminoso do Petrolão. Naquela ocasião, o coordenador da Força Tarefa, Deltan Dallagnon, mostrou-se inseguro com relação a alguns pontos que poderiam ser questionados pelos jornalistas.

No grupo intitulado “Incendiários ROJ”, formado por procuradores que atuavam no caso, Dallagnol diz “Falarão que estamos acusando com base em notícia de jornal e indícios frágeis… então é um item que é bom que esteja bem amarrado. Fora esse item, até agora tenho receio da ligação entre Petrobras e o enriquecimento, e depois que me falaram to com receio da história do apartamento… São pontos em que temos que ter as respostas ajustadas e na ponta da língua.”

A três dias da denúncia, também no mesmo grupo, Dallagnol diz o seguinte “Vcs não têm mais a mesma preocupação que tinham quanto ao imóvel, certo? Pergunto pq estou achando top e não estou com aquela preocupação. Acho que o slide do apto tem que ser didático tb. Imagino o mesmo do Lula, balões ao redor do balão central, ou seja, evidências ao redor da hipótese de que ele era o dono”. Um dia antes de a denúncia ser apresentada, o procurador falou mais uma vez sobre suas preocupações. Dois dias depois da coletiva de imprensa, o procurador conversa, também pelo Telegram, com o juiz Sergio Moro, que na época era o responsável por julgar ações da Lava Jato em primeira instância. Ao demonstrar preocupação sobre as repercussões negativas do episódio do Power Point, o procurador recebe a seguinte resposta de Moro “Definitivamente, as críticas à exposição de vocês são desproporcionais. Siga firme.”

Sérgio Moro sempre rebateu as suposições de que seria parcial nos eventos em que participava. Em uma palestra, em 2016, ele desmentiu as críticas relatando que não participava das apurações.

Outro trecho de conversa revela que Moro teria influenciado no planejamento das fases da Lava Jato. Com Dallagnol ele falou “Não é muito tempo sem operação?”, depois de um mês sem nenhuma nova etapa. Ele ainda teria dito em fevereiro de 2016: “Diante dos últimos desdobramentos talvez fosse o caso de inverter a ordem da duas planejadas”. Logo na sequência foi deflagrada a 23ª fase da Lava Jato, batizada de Acarajé.

De acordo com as mensagens divulgadas pelo jornal The Intercept, em dezembro de 2015, o então juiz da Lava Jato, Sério Moro, teria ainda passado uma pista sobre o processo envolvendo o ex-presidente Lula. Para Dellagnol, ele escreveu “Entao. Seguinte. Fonte me informou que a pessoa do contato estaria incomodada por ter sido ela solicitada a lavratura de minutas de escrituras para transferências de propriedade de um dos filhos do ex- presidente. Aparentemente a pessoa estaria disposta a prestar a informação. Estou entao repassando. A fonte é séria”.

O procurador respondeu “Obrigado!! Faremos contato”. Moro complementou: “E seriam dezenas de imóveis”. Dallagnol afirmou ao juiz que entrou em contato com a fonte, no entanto ela preferiu não prestar depoimento. E ao juiz disse: “Estou pensando em fazer uma intimação oficial até, com base em notícia apócrifa (falsa)”. Moro poderia condenar a ideia, já que o procurador parecia querer justificar um depoimento com base em uma denúncia anônima, mas teria endossado a iniciativa: “Melhor formalizar entao”, afirmou o então juiz da Lava Jato.

Pouco tempo depois, Moro e Dallagnol trocaram mensagens sobre a divulgação de um áudio em que a ex-presidente Dilma Rousseff falaria com Lula sobre a sua nomeação para a Casa Civil. Naquele dia, Dallagnol comentou sobre a abertura do sigilo dos áudios: “A decisão de abrir está mantida mesmo com a nomeação, confirma?”. Moro respondeu: “Qual é a posição do mpf?”. O procurador respondeu: “Abrir”.

Algumas mensagens demonstram a relação direta entre as investigações da força-tarefa e o magistrado. Em junho de 2016, Deltan Dallgnol listou para Moro uma série de 150 políticos que estariam envolvidos no esquema de corrupção na Petrobras a partir de informações repassadas pela delação de executivos das Odebrecht. No diálogo Moro diz: “Reservadamente. Acredito que a revelação dos fatos e abertura dos processos deveria ser paulatina para evitar um abrupto pereat mundus”. A expressão em latim se refere ao ditado comum no meio jurídico “acabe-se o mundo [mas] faça-se justiça”. Moro ainda afirmou: “Abertura paulatina segundo gravidade e qualidade da prova. Espero que LJ sobreviva ou pelo menos nós”.

Em dezembro daquele ano, Dallagnol envia nova mensagem a Moro relacionada as delações da Odebrecht. “Caro, favor não passar pra frente: (favor manter aqui): 9 presidentes (1 em exercício), 29 ministros (8 em exercício), 3 secretários federais, 34 senadores (21 em exercício), 82 deputados (41 em exercício), 63 governadores (11 em exercício), 17 deputados estaduais, 88 prefeitos e 15 vereadores”. O juiz rebate: “ Opinião: melhor ficar com os 30 por cento iniciais. Muitos inimigos e que transcendem a capacidade institucional do mp e judiciário.”

Reportagem: Juliana Goss

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