Um projeto mundial de pesquisa mostra que mais de 10% dos jovens e pessoas saudáveis que desenvolvem sintomas graves do coronavírus produzem anticorpos que atacam o próprio sistema imunológico ao invés do vírus – eles são conhecidos como autoanticorpos. Em outros casos cerca de 3% carregam um tipo de mutação genética que afeta a resposta imunológica. Esses dados foram publicados na Revista Science e fazem parte da pesquisa mundial COVID Human Genetic Effort, que conta com a participação de centros brasileiros de pesquisa. As descobertas ajudam a entender porque algumas pessoas possuem infecções mais graves do que outras.

A diretora translacional do Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe, Carolina Prando, afirma que, em alguns casos, os anticorpos agridem um grupo de proteínas responsáveis pelo combate aos vírus.

Em outros casos, essa substância responsável pela defesa não é produzida. Um dos impactos desses resultados é que no caso de tratamentos com plasma de pessoas que já tiverem o vírus, se o doador apresentar os anticorpos que agridem outras proteínas, essa doação não poderá ser utilizada no tratamento de outro paciente infectado. Ainda para a diretora, os resultados são essenciais na ajuda de novas pesquisas

A pesquisa foi realizada por meio da análise de amostras de sangue de mais de 650 pacientes que foram hospitalizados por pneumonia com risco de morte devido à infecção pelo coronavírus. No grupo controle foram incluídas amostras de mais de 530 pessoas com infecção assintomática ou benigna. No Brasil a pesquisa foi coordenada por um centro localizado no Complexo Pequeno Príncipe e outro localizado na Universidade de São Paulo (USP).

A partir desses centros, foram estabelecidas parcerias com outras 20 universidades e hospitais do país, para coleta de dados epidemiológicos. Em relação a presença dos autoanticorpos em pessoas, os casos são raros. De 1.227 pacientes saudáveis selecionados, apenas quatro tinham autoanticorpos detectáveis.