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Uma jornada poética por nordestinos iguais em tudo na vida

Entre regionalismos e sensibilidade humana a companhia emociona público ao dar voz ao povo nordestino

 Uma jornada poética por nordestinos iguais em tudo na vida

Foto: divulgação

As Ruínas de São Francisco receberam nesta segunda-feira (01), a releitura de uma odisseia da literatura brasileira: Morte e Vida Severina, obra publicada em 1955, por João Cabral de Melo Neto. Próximo às 20h, o público já marcava presença para prestigiar a produção independente da Companhia Sky Artes, em um enredo que mistura cultura e críticas sociais. Com uma temática que muitas vezes pode ser silenciada na sociedade, os atores protagonizaram uma experiência única para a plateia.

O poema-base para as cenas foi:

“Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas,
e iguais também porque o sangue
que usamos tem pouca tinta.”

Essa reflexão, logo no início do espetáculo, conduz o ator Leonardo Mazzarotto, que dá vida ao personagem Severino. No entanto, Severino acaba não sendo apenas um nome, mas sim, um adjetivo. Quanto mais o personagem tenta se individualizar, menos ele consegue, pois representa toda uma coletividade de um grupo sociocultural, mais especificamente, quem reside no sertão nordestino. “A preparação veio primeiro com a leitura, em busca de referências antes de inserir o corpo. Fiz essas pesquisas procurando ouvir pessoas do Recife, porque a região Nordeste é muito maior do que imaginamos e a diversidade de sotaque mais ainda”, contou.

Ao tentar fugir da terrível estatística de morrer de fome um pouco por dia, de morrer de bala perdida ou por morrer em meio à miséria, Severino ruma a Recife, ou seja, o litoral nordestino, em busca de melhores condições de vida. No caminho, o protagonista se depara com inúmeros desafios e, muitas vezes, se vê cara a cara com a amargura da morte e a beleza da vida. Dessa forma, há uma procura por elementos culturais e explicações para dar sentido à própria vida e morte.

A ideia de trabalhar com o poema Morte e Vida Severina é uma motivação pessoal do diretor Caio Fábio dos Santos, que desde 2011 se encantou com a obra ao ter contato em um festival de dança, “Foi uma escolha por osmose, sabe! Um amor a longo prazo”. Desde então, seus estudos acerca das marcas de regionalismo e da estrutura única de João Cabral de Melo Neto foram sendo intensificados.

Caio também conta que, além da obra ser muito relevante para a literatura brasileira, ela acaba sendo muito importante no ambiente escolar. “A gente vê uma grande relevância educacional ao levar Morte e Severina ao público, tanto que quando anunciamos a peça no Festival de Curitiba, nós recebemos muitos contatos com professores que se interessaram”, relata.

Ao longo da performance, o jogo de luz estratégico e a trilha sonora pontual proporcionaram uma imersão do público no sertão nordestino. Segundo o técnico de som e iluminação, Eduardo Fábio Borges dos Santos contou que a estratégia foi trabalhar com a cor âmbar e tons de amarelo, laranja e vermelho para dar a sensação de calor durante a jornada de Severino e para retratar temas como a seca, a fome e a morte. Já a trilha sonora conta com músicas que remetem ou que fazem parte da cultura nordestina. “As músicas são instrumentais bem pensadas, pois pesquisamos bastante e fomos atrás de muita gente para isso acontecer”, pontua Eduardo.

Por ser uma obra que retrata temas sensíveis, as releituras costumam ser representadas de forma mais dramática. No entanto, o diretor da companhia Sky Artes entregou um diferencial ao integrar dança, música e teatro em uma peça só. “Realmente, a dança tem um outro jeito de abordar esse diálogo, que é pesado, para com outro olhar, trazendo uma leveza, mas ao mesmo tempo o cansaço do nordestino, então é isso que a gente quis passar unindo a dança ao teatro”, contou a bailarina e atriz Luiza Carvalho de Oliveira.

A professora de teatro Ana Martins de Souza, de 54 anos, que foi prestigiar seus ex-alunos, conta que admira muito o empenho da companhia e que acha muito necessária essa contextualização do espetáculo para 2024. “Essa situação de Severinos acontece em todos os lugares e em todos os momentos”, relata Ana. Ao final do espetáculo, a plateia aplaudiu de pé os atores que, em meio a gritos e aplausos, agradeceram.

Serviço:
Morte e Vida Severina – Uma Jornada no Sertão
Fringe – 32° Festival de Curitiba
Datas 01/04 às 20h e 03/04 às 10h30
Local: 01/04: Ruínas de São Francisco – Avenida Jaime Reis, 170, São Francisco
03/04: Teatro da Vila / CIC – Rua Davi Xavier da Silva, 451, Cidade Industrial
Classificação: Livre
Duração: 60 min
Gênero: Drama

Evento gratuito

Reportagem: Camille Victoria, estudante da Universidade Positivo (UP)

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Paula Duraes

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