Foi aprovado pela Câmara Municipal de Ponta Grossa um projeto de lei que permite a distribuição de medicamentos sem eficácia comprovada para o tratamento da covid-19. Em segunda votação, nesta segunda-feira (19), por 11 votos a 5, os vereadores do município ignoraram os principais estudos científicos realizados no mundo para defender o chamado “kit covid”.

A oposição vai recorrer judicialmente contra a proposta, que ainda depende da sanção da prefeita Professora Elizabeth (PSD). Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Ponta Grossa informou, em nota que o “Executivo aguarda o encaminhamento do projeto de lei pela Câmara de Vereadores para análise”.

O projeto de lei aprovado pela Câmara Municipal de Ponta Grossa prevê a distribuição gratuita, pelo SUS, de medicamentos que não funcionam contra o coronavírus. Entre eles, hidroxicloroquina, ivermectina e azitromicina, usados, por exemplo, para tratamento de malária, piolho, vermes e parasitas.

Reportagem do Estado de S. Paulo, publicada em março, alertou que o uso indiscriminado de medicamentos do chamado “kit covid” já havia causado, pelo menos, três mortes e cinco transplantes de fígado por hepatite medicamentosa.

Uma metanálise assinada por quase 100 cientistas, publicada na revista Nature, na última quinta-feira (15), associa o uso da hidroxicloroquina ao aumento da mortalidade de pacientes com covid-19. Quanto ao uso da cloroquina, não houve benefício para os infectados que fizeram uso desta droga. A pesquisa colaborativa analisou 28 estudos, dos quais participaram mais de 10 mil pacientes.

Na análise, os cientistas avaliaram dois dos principais estudos globais sobre o uso da hidroxicloroquina para o tratamento da covid-19. A pesquisa Recovery, conduzida pela Universidade de Oxford, além de não identificar benefícios da droga, apontou para hospitalização mais demorada e maior risco de progressão para intubação e morte. O estudo Solidarity, da Organização Mundial da Saúde (OMS), também não apontou nenhum benefício do uso deste medicamento para malária no tratamento de infectados pelo coronavírus.

Na semana passada, o Brasil virou motivo de chacota no parlamento da França no momento em que deputados debatiam as ações contra a pandemia.

O premiê francês Jean Castex mencionou o Brasil como mau exemplo na condução da crise, citando que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é um defensor de remédios sem eficácia para a covid-19 e que o país tornou o epicentro da pandemia e um celeiro para o desenvolvimento de mutações do vírus. Na semana passada, a França suspendeu voos diretos para o Brasil devido ao risco que o país se tornou para o mundo.

Reportagem: Angelo Sfair