Curitiba

Monólogo de Dimitris Dimitriadis personifica a voz da consciência

Atriz Liane Venturella mergulha em texto de dramaturgo grego

 Monólogo de Dimitris Dimitriadis personifica a voz da consciência

Foto: Divulgação

Atingir o coração do coração do sono. Esse é o desejo da personagem sem nome da peça solo “Derrota”, que teve sua estreia na última quinta-feira (31), no auditório Paul Garfunkel, da Biblioteca Pública do Paraná. 

Idealizado e dirigido pela premiada diretora gaúcha Camila Bauer, o espetáculo é uma adaptação de um monólogo homônimo de Dimitris Dimitriadis, um dos principais nomes do teatro contemporâneo europeu, e traz a atriz Liane Venturella no papel de uma mulher de meia idade que, submersa em uma insônia, é perturbada por dilemas filosóficos, enquanto reflete sobre a existência humana.

“É uma peça que, de certo modo, traz a tradição da tragédia grega”, diz Camila, que traduziu o texto de Dimitris ainda inédito no país. “Apresenta o ser humano em relação ao mundo e, a partir disso, discorre sobre o quanto a gente pode lutar por aquilo que julgamos justo e correto, sobre o quanto, às vezes, temos que ir contra a coletividade para que a própria coletividade possa emergir. Acho que esse texto traz muito da luta do individual contra o coletivo”, afirma. 

Segundo a diretora, a adaptação dialoga com o atual momento de polarização do país, em que sentimos fazer parte de um mundo que não está muito certo e conclui que ela pode fisgar o público brasileiro por abordar, essencialmente, conflitos universais.

Embora seja uma peça solo, há um suporte técnico e tecnológico empenhado no sucesso da montagem. Já no início, com auxílio de projetores, um cômodo comum é refletido na parede do fundo do palco. Na tela aparece uma mulher fumando em uma janela; em seguida, ela desaparece e reaparece, presencialmente, no palco. O ambiente minimalista — com apenas uma cadeira, mesa, cigarros e um copo de água —, por vezes tomado por uma fumaça branca, sugere que a mulher está dentro do seu quarto, passando por uma insônia pesada. “Essa é a minha derrota”, diz a personagem em determinado momento. A partir de então, ela descamba para uma série de racionalizações e indagações típicas de uma crise existencial.

O texto de Dimitriadis se destaca imediatamente dando ao seu teatro uma dimensão poética e filosófica com um estilo linguístico altamente elaborado, como bem apontou a dramaturga e crítica de teatro Irene Mountraki, no discurso “In Chorus by Dimitris DImitriadis”, proferido na New York University, em maio de 2018. 

Para a encenação brasileira, a atriz veterana Liane Venturella parece ter entendido essa lógica e adotou um estilo de atuação mais contido e intimista, que privilegia a beleza das palavras e naturalidade das divagações que ocorrem durante os 35 minutos de Derrota.

De certo modo, a impressão é de que a atuação tenta mimetizar a voz da nossa consciência. Ilustra no palco aquele momento em que nossa mente pega uma passagem sem volta para o sem rumo das reflexões profundas — aquele momento no meio da madrugada, antes do sono, em que você gostaria que existisse uma máquina que transcrevesse os seus pensamentos, acreditando existir um saber aterrador nesse emaranhado de ideias desconexas. Nesse sentido, o texto do autor grego colabora bastante, já que é cheio de digressões bem estruturadas.

“Pela complexidade dos temas abordados, supõe-se que seja um texto difícil”, diz Liane, que nos seus 38 anos de carreira, está vivendo agora sua primeira experiência solo no palco. “No entanto, é um jogo de palavras tão boas, tão bem escolhidas, tão simples, tão do dia-a-dia, que essa é a grande brincadeira: deixar-se levar pelo pensamento. Todo mundo vai se identificar”, garante a atriz.

Por conta da pandemia, a adaptação, que teve seu processo de montagem iniciado em 2020, foi concebida para ser on-line e contou com temporadas ao vivo no YouTube. Nessa versão digital, a personagem se dirigia a tela do computador, a um receptor desconhecido. Mais tarde, tanto atriz como a diretora, acharam que Derrota ainda tinha muito a comunicar ao público e que fazia mais sentido as apresentações serem presenciais, no palco do teatro. 

E a estreia da peça nesse novo formato aconteceu na mostra Interlocuções, do Festival de Curitiba — que esse ano completa 30 anos de existência.

“Poder estrear o Derrota é uma alegria enorme”, diz Camila. “Devemos muito a curadoria da mostra Interlocuções por acreditar na potência desse teatro que se volta para o simples — um simples que pode ser muito grandioso”, pontua.

Liane, que está em sua segunda participação no Festival, considera essencial a circulação e o contato com os colegas de profissão, aliás, esse é um dos principais motivos para continuar atuando. “Para mim significa mais ainda o fato de estarmos saindo de uma pandemia e dessa clausura que estávamos”, diz a atriz. “Agora podemos fazer essa experimentação presencialmente e com possibilidades de levar esse texto brilhante para outros contextos”.

SERVIÇO

DERROTA (Projeto Gompa/RS) –  Projeto Gompa e Cia. Incomodete.

Data: 31 de março e 1 de abril • Horário: 19h

Local: Teatro da Biblioteca Pública do Paraná

Classificação: +14

Espetáculo gratuito, com retirada de ingressos 1h antes no local do evento, conforme capacidade da sala.

A reportagem faz parte do projeto especial para o site bandnewsfm feita em parceria com estudantes do curso de Jornalismo da Universidade Positivo. O texto é de Luiz Felipe Cunha .

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leonardo.gomes

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