Lula diz que se soubesse de esquema da Petrobras envolvidos teriam sido presos antes
A audiência do interrogatório do ex-presidente Lula ao juiz Sérgio Moro começou com bate-boca entre a defesa e o juiz sobre a presença de celulares na sala da Justiça Federal. Depois de indeferir o pedido para que os aparelhos fossem usados na sala, Moro fez uma bateria de perguntas ao ex-presidente que durou três horas. No total, nesse que foi o segundo depoimento mais longo da história da Lava Jato, Lula foi interrogado por cinco horas pelo juiz federal Sérgio Moro. Ele negou ter pedido à OAS reforma no apartamento do Guarujá e disse que está sendo julgado pelo governo pelo que fez como governante, por um “Power Point Mentiroso”, em referência a entrevista coletiva de procuradores da Lava Jato em que foi exibida uma apresentação.
Lula se defendeu das acusações do Ministério Público Federal que apontam o ex-presidente como recebedor de vantagens pagas pela empreiteira OAS, em troca de contratos na Petrobras. Lula alegou que o apartamento do Guarujá foi rejeitado por ele quando foi ver o apartamento em 2005, que considerou pequeno para toda a família. O ex-presidente disse que a ex-primeira dama Marisa Letícia pode ter tido interesse em comprar o imóvel como forma de investimento, mas não discutiu mais isso com ela depois que houve a desistência.
Apesar de dizer inicialmente que tentaria não interromper o interrogatório, o advogado Cristiano Zanin Martins fez várias interrupções ao longo da audiência. Para confirmar afirmações, Moro repetiu perguntas já feitas por ele e outras feitas pelo delegado da Polícia Federal quando o petista foi conduzido coercitivamente no ano passado.
Entre os vários embates, Lula chegou a intervir em uma discussão entre o advogado e o juiz Sérgio Moro.
Lula reclamou das condições impostas para colaboradores da Lava Jato. Moro questionou se o ex-presidente acreditava que havia uma conspiração contra ele.
Em outro momento da audiência, o juiz perguntou a Lula se ele sabia do esquema de pagamento de propina por empreiteiras a partidos políticos em troca de contratos com a Petrobras. Lula disse que se soubesse os envolvidos teriam sido presos antes.
Lula voltou a dizer que o ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro, mentiu para conseguir firmar acordo de delação premiada.
A ação também engloba o armazenamento de bens do ex-presidente depois que ele deixou a Presidência. O petista sempre negou todas as acusações. A defesa do ex-presidente nega que Lula seja o real proprietário do imóvel. Os advogados afirmam também que o acervo presidencial de Lula é privado, com “documentos de interesse público e histórico, que não podem ser vendidos ou desfeitos antes de consulta ao Estado brasileiro”. Segundo a defesa, não existe, “mesmo na narrativa distorcida dos procuradores, nenhuma imputação de conduta criminosa no ato”.
O processo é resultado da 22ª fase da operação, a Triplo X, deflagrada em janeiro de 2016, quando a Polícia Federal (PF) levantou a suspeita de que apartamentos do prédio estariam sendo usados por investigados para lavar dinheiro. Em março, na Operação Aletheia, 24ª fase, o ex-presidente foi levado para depor coercitivamente no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. A operação era uma continuação das investigações.
O triplex no Condomínio Solaris, construído com recursos da cooperativa habitacional do sindicato dos bancários, a Bancoop, foi adquirido e reformado pela OAS, uma das principais envolvidas no esquema de corrupção na Petrobras. Laudos apontam melhorias no imóvel avaliadas em 777 mil reais, além de móveis estimados em 320 mil e eletrodomésticos em 19 mil. A PF estima que as melhorias tenham custado mais de um milhão de reais no imóvel do Guarujá. De acordo com o processo, a empreiteira também teria pagado pelo aluguel de um depósito para guardar bens presidenciais – desde 2011, quando Lula deixou o Planalto, a guarda do material teria custado um milhão e trezentos mil reais. A empreiteira teria realizado os pagamentos até 2016.
Eram 21 mil e 500 reais mensais para que bens do ex-presidente ficassem guardados em depósito da empresa Granero. Neste processo, já foram ouvidas 26 testemunhas do MPF e 43 da defesa de Lula e outros réus – entre elas empreiteiros, vizinhos e o zelador do edifício. Lula é o último réu do processo a ser ouvido por Moro. Entre os demais, está o ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro, que confirmou que o apartamento pertencia ao ex-presidente. Outros réus são os ex-executivos da OAS Agenor Franklin Magalhães Medeiros, Fabio Yonamine, José Aldemário Pinheiro e Paulo Gordilho; o advogado Roberto Moreira Ferreira; e o presidente do Instituto Lula, Paulo Tarciso Okamotto. A ex-primeira-dama Marisa Letícia também estava entre os réus, mas morreu no dia 3 de fevereiro.