Till, o herói torto: olhar sobrea moralidade humana
Peça sobre folclore alemão retorna dez anos após sua primeira apresentação no Festival
Um desafio é proposto pelo demônio para Deus: se tirassem do homem as poucas qualidades que lhe restam, cairia ele em perdição? Se tirassem todos os seus escrúpulos, ainda manteria a dignidade e coragem? Essa é a proposta da peça “Till, a saga de um herói torto”, do Grupo Galpão, encenado nos dias 04 e 05 de abril, no Teatro da Reitoria.
Em uma Alemanha medieval, uma terra de pobres, indigentes, incapacitados e derrotados pela praga, nasce o jovem Till (Inês Peixoto). Rodeado de pessoas grotescas e esfomeadas, após se ver perdido no terrível frio da noite, percebe que só poderia sobreviver com uma sagacidade maior do que a daqueles que o cercavam. A história conta também com outros três principais personagens: cegos andarilhos que andam pela terra em busca das torres de Jerusalém.
Contando a história do personagem inspirado no mito alemão: Till Eulenspiegel, nome completo do personagem, é um folclore do século XII. A peça conta com momentos interativos com o público e até cenas musicais: a obra tem cantos da idade média para ilustrar a vida das personagens, deixando a continuidade da história extremamente fluida e marcando cenas específicas, como a cena em que o jovem Till se perde na noite adentro por acompanhar uma banda com sua flauta. No final do espetáculo, a plateia se levantou para aplaudir em pé.
O diretor Júlio Maciel comenta sobre a atualidade da peça: foi escrita há mais de 20 anos e encenada pela primeira vez há cerca de 10. Se não soubesse da sua origem, poderia-se pensar que fora produzida em pleno 2022. Uma peça similar, também encenada no festival, foi “Conselho de Classe”, da Companhia dos Atores. A obra conta a história de quatro professoras e como elas lidam com a profissão em meio a precariedade de uma escola pública do Rio de Janeiro. Também pode-se pensar que a mesma foi escrita para os dias atuais, mas ela foi encenada pela primeira vez em 2014. Para Maciel, o teatro se apresenta como forma de resistência contra a política atual.
A reportagem faz parte do projeto especial para o site bandnewsfm feita em parceria com estudantes do curso de Jornalismo da Universidade Positivo. O texto é de Jesse Herlain.