Por imparcialidade, Tribunal transfere para Curitiba julgamento de Jorge Guaranho
Julgamento não tem data para acontecer, segundo TJPR, exposição midiática compromete jurados, no oeste
A nova data de julgamento de Jorge Guaranho, réu por matar a tiros o tesoureiro do PT, Marcelo Arruda, deve ser anunciada nos próximos dias. O processo foi transferido para Curitiba, após decisão da 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Paraná, anunciada nesta quinta-feira (13). Segundo o desembargador relator do caso, Sérgio Luiz Patitucci, a exposição midiática e a comoção gerada pelo caso, contaminam a imparcialidade dos jurados, sendo impossível de ser realizado um julgamento justo em Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná, cidade onde aconteceu o crime.
Com isso, sete pessoas comuns da capital Paraná devem definir se o ex-policial penal é culpado pelo crime, além da extensão dessa culpa, com o reconhecimento de circunstâncias agravantes ou atenuantes. Para o desembargador, julgar Guaranho na capital do estado pode atenuar os efeitos da polarização política na análise do caso.
LEIA MAIS
O voto do relator foi acompanhado por outros dois desembargadores, resultando em uma decisão unânime. Além da exposição midiática, a participação ativa de Marcelo Arruda, na vida política da cidade, influenciou na determinação pela mudança do local do julgamento. O advogado de Jorge Guaranho, Samir Mattar Assad, aponta que diversas manifestações em homenagem à vítima foram feitas em Foz do Iguaçu, o que segundo ele, também compromete a imparcialidade dos jurados.
Já para o advogado que representa a família da vítima, na condição de assistente da acusação, Daniel Godoy, a influência dos servidores públicos na vida da cidade é algo natural. Segundo ele, esse fato não deveria servir como motivo para impor uma suspeição à toda população de Foz do Iguaçu.
Com o chamado desaforamento, que é justamente a mudança da cidade onde acontece o julgamento, o processo sai de Foz do Iguaçu e vem para Curitiba. Essa remessa dos autos acontece de forma eletrônica, nos próximos dias. O juiz que receber o processo na capital assume o julgamento de forma integral, podendo inclusive, revisar decisões anteriores.
Neste ano, ainda em Foz do Iguaçu, o julgamento Guaranho foi adiado duas vezes. O primeiro, em 4 de abril, após a defesa do ex-policial penal abandonar o plenário do Tribunal do Júri, por não concordar com a condução dos trabalhos pelo juiz presidente. O segundo adiamento aconteceu por determinação do próprio juiz que conduzia o caso em Foz do Iguaçu, Hugo Michelini Júnior, após o pedido de mudança no local de julgamento. A sessão chegou a ser marcada para 2 de maio, mas foi cancelada logo em seguida.
Marcelo Arruda foi morto enquanto comemorava o aniversário de 50 anos com amigos e familiares. A festa tinha como tema o Partido dos Trabalhadores e o presidente Lula. Conforme as investigações, Jorge Guaranho invadiu a comemoração e iniciou uma discussão com a vítima, na sequência foi embora. Cerca de 10 minutos depois, o ex-policial penal retornou ao local armado e disparou contra Marcelo.
A vítima chegou a ser socorrida, mas não resistiu aos ferimentos. O crime completa dois anos em 9 de julho. A principal tese do Ministério Público do Paraná é que o crime teve motivação política. Jorge Guaranho é réu por homicídio duplamente qualificado, por motivo fútil e perigo comum. Ele está preso desde agosto de 2022, no Complexo Médico Penal de Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba.
Reportagem: David Musso