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Mirian Gasparin

Ano eleitoral, juros em alta e incertezas na economia têm pesado na decisão

 Empresas desistem de abrir capital

Imagem: Pixabay

A queda das ofertas públicas iniciais de ações de empresas brasileiras já era esperada para este ano. No entanto, o que ocorreu nesses sete primeiros meses do ano, superou as piores expectativas. Ou seja, apenas cinco pedidos de abertura de capital ingressaram na Comissão de Valores Mobiliários, e 14 empresas simplesmente desistiram das solicitações apresentadas em anos anteriores. Entre as empresas paranaenses que pretendiam abrir seu capital, mas desistiram estão as Farmácias Nissei e o Grupo Madero.

Vale lembrar, que nos dois primeiros anos da pandemia, a Bolsa brasileira registrou uma enxurrada de IPOs, sigla em inglês, que significa Oferta Pública Inicial de Ações. Entre 2020 e 2021, 73 empresas abriram seu capital, um período que foi considerado pelos analistas financeiros como a era de ouro. Em termos financeiros, só no ano passado, a movimentação de companhias brasileiras que abriram seus capitais beirou a casa de US$ 7 bilhões, ou o equivalente a R$ 37 bilhões.

Eu conversei com analistas financeiros e pedi a eles que justificassem os motivos que estão levando as empresas a desistirem de lançar suas ações na bolsa. Pois bem, entre os motivos apresentados está a elevação das taxas de juros, o que torna outros investimentos mais atrativos do que os riscos presentes no mercado acionário. Também tem pesado na decisão, as incertezas quanto ao futuro da política econômica brasileira, a inflação em alta e o risco externo, que foi agravado com a guerra entre Rússia e Ucrânia.

Somado a tudo isso, nós estamos em ano eleitoral e o mercado adota um comportamento receoso e especulativo, com menor liquidez e avidez por compras baseadas em fundamentos. Aliás, essa atitude faz com que quem quer abrir capital não perceba nos investidores o apetite para pagar um bom preço pelas ações, e os valores ficam prejudicados.

Diante desse cenário, é necessária a volta do otimismo ao mercado, que se mostrará na valorização do Ibovespa, para que as empresas voltem a estar dispostas a abrir seu capital. Alguns especialistas falam em uma possível recuperação neste segundo semestre do ano, mas pessoalmente, tenho dúvidas. Ainda teremos um período nervoso, e vamos continuar notando o impacto da subida dos juros na economia real.

O mercado apenas se tornará mais favorável aos IPOs caso venha a ter uma visão mais clara do cenário político futuro, contando também com uma estabilização de preços, pressionados pelas quebras das cadeias produtivas em função da guerra e da alta de juros.

Confira a coluna em áudio:

Mirian Gasparin

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